Com o tema “Interculturalidade dos Povos Originários” Escola em Tempo Integral realiza Feira dos Povos Indígenas
O projeto apresentou em seu contexto o diferencial de não simplesmente celebrar a semana dos povos indígenas, mas, mostrar a integração destes povos dentro da nação brasileira
Secom
A Escola em Tempo Integral Angélica Sales foi palco da II Feira dos Povos Indígenas no último dia 09. O evento reuniu estudantes, pais e membros da comunidade para apreciarem a diversidade cultural das etnias Kambeba, Warao e Marajoara. O projeto apresentou em seu contexto o diferencial de não simplesmente celebrar a semana dos povos indígenas, mas, mostrar a integração destes povos dentro da nação brasileira.
Os alunos apresentaram trabalhos que resgatam os valores dos povos originários em toda a sua riqueza e multiplicidade cultural. Dentre eles destacam-se o artesanato, alimentos típicos, plantio, manifestações artísticas, recitação de poesia, assim como apresentação de canto indígena em uma formação de roda entre alunos e visitantes.
Os estudantes de todas as turmas abordaram temas relacionados a livros, textos e poesias da escritora Márcia Kambeba, dando ênfase ao livro Infância na Aldeia. A escritora esteve na escola um dia antes da feira e palestrou para a classe estudantil. Nas redes sociais, Márcia Kambeba, manifestou, em forma de poema, sua satisfação: “Recebi mil sóis num gesto apertado, braços pequenos, coração alado. Num abraço de alma, doce e sereno, a cura da vida num toque tão pleno. Vem das crianças ternura e verdade, renova-me o ser com pura bondade”. Ainda disse: “Visitei uma escola municipal de tempo integral no Distrito de Santa Maria, em Benevides, e saí de lá com o coração renovado. Foi um encontro de afetos. A equipe de professores tem meu total reconhecimento e gratidão por cultivar um ambiente tão acolhedor. Mas o que me marcou foi o abraço. Há gestos que nos reconectam com o essencial. Naquele momento, senti que o abraço é também uma forma de linguagem, talvez a mais pura. Quem precisa de força, de alento, de fé na humanidade... talvez precise apenas de um abraço como esse que recebi. Gratidão!”.
Estudantes do primeiro ano apresentaram trabalhos sobre contos e encantos das três etnias, incluindo nas suas demonstrações, o livro Infância na Aldeia, de Marcia Kambeba. Já a turma de segundo ano, além de contos e textos, trabalhou a culinária, tanto dos Warao, como dos povos Marajoara e Kambeba.
O terceiro ano, utilizou os contos na apresentação de seus trabalhos, bem como histórias infantis indígenas. Do artesanato marajoara, apresentaram a cerâmica, confeccionada por eles, com a argila que foi retirada do rio que banha o Distrito de Santa Maria. Da etnia Warao, vivenciaram e expuseram a confecção de cordões, pulseiras e brincos, feitos de miçanga. O traçado foi a marca forte da etnia Kambeba, do qual os alunos trabalharam a confecção de cestas e papéis trançados.
O quarto ano trabalhou a biografia das personalidades das três etnias, dando destaque a Marcia Kambeba, da etnia Kambeba; ao indígena Raoni, da etnia Marajoara, e Yoles Lion, da etnia Warao, que defende a luta ativista em busca de melhoria, além dos vinte alunos Warao que fazem parte do corpo discente da Escola Angélica Sales e do interprete Ricardo Gonzáles. Os alunos também trabalharam a leitura de uma poesia chamada Índio Não Sou, interpretada por uma aluna. Já o quinto ano apresentou trabalhos que mostram a realidade atual das etnias, quais seus anseios e as lutas que travam.
Sob muita emoção, a diretora da escola, Socorro Sampaio falou sobre o evento: “Eu fiquei muito agraciada com tudo. Foi vivido intensamente pelas crianças todo esse resgate ancestral que buscamos, porque através dele conseguimos trabalhar o respeito, a equidade, e como se trabalhar com o ser humano. É um processo vivenciado diariamente pelas crianças desde o ano passado. Todo esse letramento racial é vivido todos os dias na escola, então isso me deixou muito contente. Nós recebemos a visita da indígena, que é ativista, que é escritora, doutora Márcia Kambeba, e esse contato foi espetacular para as crianças, que também convivem com nossas crianças indígenas, Warao. As crianças conseguiram enxergar uma indígena que vive no meio de uma sociedade, como palestrante, e pode estar onde ela quiser, e não ter aquela venda de que o indígena mora isolado numa comunidade. Esse resgate de identidade ficou muito forte para nós e foi muito lindo de ver".
“Eu nunca fui professora de crianças indígenas, então ao chegar lá e ver que a feira era voltada para esse contexto, com crianças indígenas, traz pra gente a realidade de como se pode viver. A 2ª feira explorou três comunidades indígenas e entre elas as comunidades de crianças que já vivem ali no contexto da escola. Todas as turmas trabalhando e compreendendo a cultura dos indígenas. Achei bem interessante porque na fala dos alunos a gente vê que eles estudaram e se apropriaram desse conhecimento e falavam com amor e com verdade, e isso faz toda diferença. Disse a eles que terem naquele meio crianças que são indígenas, é respeitá-los e fazer com que o espaço em que convivem seja acolhedor. É muito importante ver que ali aconteceu uma socialização, uma interação de conhecimentos, o que é fundamental, inclusive na questão da inclusão, portanto, vários fatores estavam ali associados.”, disse a Diretora de Ensino do Núcleo Político Pedagógico da Secretaria Municipal de Educação, Professora Rita Soares.
A participação da comunidade foi primordial, que teve a oportunidade de vivenciar ativamente, interagindo com os alunos, além de conhecer a realidade dos indígenas que são alunos da escola, e ver tudo que as crianças trabalharam em dois meses para apresentar na feira.